As técnicas de visualização evoluíram de forma notável ao longo do tempo e com os adventos tecnológicos, os resultados finais estão cada vez mais próximos de simular de maneira fiel aspectos próprios da realidade. Podemos dizer que, no campo da arquitetura, um projeto de visualização busca principalmente evidenciar as características e qualidades de um espaço tridimensional - ainda não construído ou em processo de construção - através de imagens, renderizações, vídeos ou ferramentas de realidade virtual - projetados, de forma geral, em suportes bidimensionais como as telas ou o papel -, considerados ferramentas essenciais para que os clientes, em geral pouco familiarizados com as representações técnicas, ou para um júri nos casos de concursos, compreendam um projeto de forma integral em uma etapa prévia a sua materialização.
Provavelmente, se estivermos interessados em comunicar qualidades tais como as medidas específicas de um projeto, apelaremos a ferramentas de representação mais precisas, como os desenhos técnicos; se quisermos expressar uma ideia ou um conceito global, no entanto, bastará um croqui ou um ideograma; e se quiséssemos entender a distribuição espacial de um edifício, uma planta de organização será o suficiente. A visualização arquitetônica, por sua vez, oferece uma visão mais realista e aproximada do resultado final do projeto concebido, dando muito mais que informações acerca de dimensões ou detalhes. É, antes de tudo, uma imagem global, uma composição onde convergem e interagem as formas, as luzes, as sombras, as texturas, as cores e os tons.
Em um mundo onde prevalece a comunicação visual, e como bem menciona Juhani Pallasmaa em Os olhos da pele, "a arquitetura adotou a estratégia psicológica da publicidade e da persuasão instantânea", onde parece que a cultura gráfica aposta cada vez mais para a produção de conteúdo visual "chamativo e memorável" -que se destaque dentro da atual avalanche de imagens às quais temos acesso através de nossos dispositivos virtuais-, é relevante pensar nesta "reação rápida" que as imagens produzirão naqueles que as recebem, considerando quem vai ler a imagem e quais sensações ou disposições de ânimo se pretendem gerar em quem a contempla. Para um olhar não-profissional, portanto, o detalhe, ou a medida exata de um espaço talvez não tenham tanto valor quanto os parâmetros de luz, as qualidades materiais, as texturas, as formas, as cores, ou outros elementos que, em conjunto, vão dialogar entre si e compor a atmosfera da imagem: aquele conteúdo implícito que também nos comunicará algo para além do conteúdo gráfico específico.
O conceito para designá-lo é "atmosfera". Todos o conhecemos muito bem: vemos uma pessoa e temos uma primeira impressão dela (...) algo parecido me ocorre com a arquitetura. A atmosfera fala de uma sensibilidade emocional, uma percepção que funciona a uma velocidade incrível e que faz parte dos meios de sobrevivência de nós seres humanos. (...) Existe alguma coisa dentro de nós que nos diz, em seguida, um monte de coisas; um entendimento imediato, um contato imediato, uma rejeição imediata.
Peter Zumthor, Atmosferas
A busca por um impacto visual rápido por parte de uma cena sobre o espectador não é algo novo. No campo da pintura, por exemplo, basta mencionar o trabalho do barroco, onde a luz, o chiaroscuro e as tonalidades se transformam em recursos essenciais para transmitir sensações específicas. Outros dois movimentos pictóricos que se destacaram em relação ao desenvolvimento de atmosferas visuais foram o romantismo e o impressionismo, onde a carga interpretativa pessoal do meio fez com que o uso da cor e da luz fosse, na maioria dos casos, feito de forma exagerada, com o objetivo principal de transmitir experiências, para, por exemplo, induzir instantaneamente a sensação de calma ou sossego, ou ainda produzir um estado de tensão naquele que observa a imagem.
No campo da fotografia, por outro lado, a manipulação dos parâmetros da câmera como o balanço de brancos, podem chegar, inclusive, a transformar a percepção integral de uma imagem, potencializando ou modificando a atmosfera que se captura através da temperatura da cor e da luz. Isso vai depender da interpretação que o fotógrafo faça do espaço que está registrando ou da mensagem que ele queira transmitir com sua fotografia, mas o conceito é o mesmo comentado em relação às técnicas pictóricas: há uma mensagem que se comunica por meio deste conjunto de elementos - a luz, as texturas, as formas, as cores, as tonalidades - que condiciona o receptor a associar a paisagem registrada com diferentes sensações ou ideias de forma instantânea.
Como bem exemplificam a pintura e a fotografia, de forma geral as artes visuais sempre tiveram muito presente a percepção de que os parâmetros como luzes, sombras e as cores percebidas são, em conjunto, responsáveis por gerar estímulos conscientes e inconscientes nos receptores. Portanto, o desenvolvimento de técnicas de manipulação das atmosferas visuais permitiu aos artistas carregar suportes bidimensionais - lonas, papéis, telas - com informações "sensíveis", condicionando aqueles que consomem essas imagens a certos estados de espírito.
Na visualização arquitetônica, a manipulação desses recursos tão bem compreendidos pelas artes pode representar uma oportunidade para transmitir grandes quantidades de informação e ideias a respeito de um projeto que excedem as especificidades técnicas do mesmo -que muitas vezes são inacessíveis para pessoas não profissionalizadas no campo-, dando referências de forma implícita sobre o contexto onde se implantará a obra, como se usará o projeto, a quais usuários será destinada, etc.
Conheça mais sobre a relação entre espaço, imagem e percepção e aprofunde-se a respeito dos efeitos gerados a partir da manipulação de recursos como a iluminação e a cor na arquitetura, a seguir:
Cor
- O papel da cor na arquitetura
- Como as cores alteram a percepção dos espaços interiores
- Como as cores influenciam a Arquitetura